Cada peça que se encaixa: a travessia do que fomos ao que podemos sentir
Cada peça que se encaixa: a travessia do que fomos ao que podemos sentir.
Na terapia é comum que fragmentos da nossa história venham à tona como peças soltas de um quebra-cabeça. Nem sempre conseguimos, de imediato, compreender o que sentimos ou por que reagimos de determinadas formas. Há memórias que não foram esquecidas, mas guardadas sem tradução emocional. Elas seguem ali, produzindo efeitos silenciosos no nosso modo de viver, amar e nos proteger.
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Cada peça que se encaixa revela não só quem somos, mas também quem precisávamos ser para sobreviver.
Talvez você tenha se tornado forte demais, prestativa demais, silenciosa demais — não por escolha, mas por necessidade. Ao longo da vida, nos moldamos para caber, para sermos aceitas, ou para suportar o que parecia insuportável.
Na escuta psicanalítica, quando começamos a nomear essas partes — com dor, com estranhamento, às vezes com lágrimas — iniciamos o que chamamos de elaboração. Trata-se de um movimento interno: atravessar o que foi vivido para que, enfim, possa ser sentido, simbolizado e integrado.
Esse processo não é rápido. Ele é feito de retornos, pausas, silêncios e descobertas. Mas é, sobretudo, um caminho de encontro com quem você foi, com quem é hoje — e com quem ainda pode vir a ser.
Se você sente que algo em você pede escuta, talvez seja hora de cuidar dessas peças com mais amor e coragem. Algumas partes não estão perdidas, apenas esperando para serem reconhecidas.
Irismar Oliveira - Psicanalista
Imagem da internet
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